quarta-feira, 26 de março de 2014

Darwin e o Behaviorismo


Afinal, o que Charles Darwin e a Teoria da Evolução das espécies tem haver com Análise do Comportamento? A resposta é muitas contribuições epistemológicas, das quais esta postagem não tem a pretensão de esgotar para não nos tornarmos cansativos.

A partir do artigo Seleção por Consequência de Skinner, faremos algumas pontuações gerais sobre o tema. Espero que seja uma leitura prazerosa!

Antes de mais nada, vamos desfazer alguns pequenos preconceitos com a Teoria da Evolução de Charles Darwin:

1. A concepção de que os organismos mais fortes sobrevivem é errônea. São os organismos mais adaptados a determinadas condições ambientais em determinado momento histórico que tem maior probabilidade de sobreviverem.

2. Não existem espécies mais evoluídas do que outras, como costumam dizer, principalmente quanto a nós, seres humanos, frente a demais espécies. Golfinhos também usam linguagem (não ensinada por humanos) e os Bonobos tem uma organização social mais pacífica e coerente do que a nossa, que volta maiores atenções a exploração de novos recursos (gerando possíveis poluições e perdas ecológicas) do que para manutenção das condições de sobrevivência da vida na terra.

3. Desta maneira, a teoria da evolução não enumera valores quanto ao processo de transformação das espécies, se tais ou tais modificações anatomofisiológicas são boas ou ruins ou se tais e tais comportamentos são bons ou ruins. Estes valores de bom e ruim são avaliações feitas posteriormente a seleção das espécies e comportamentos pela nossa cultura. (Sobre o comportamento, não é da teoria de Darwin, mas se aplica aos Comportamentos)

Assim, como determinadas espécies sobrevivem por questões anatômicas, indivíduos sobrevivem pelas suas aprendizagens individuais (seus comportamentos) e as culturas sobrevivem pelas práticas de determinadas por um grupo. Desta maneira, temos três níveis de seleção por consequências, que são concepções advindas da evolutividade das espécies, na qual:

1. A Biologia ficaria responsável pelo estudo das questões fisiológicas, posto seu valor de sobrevivência para a espécie, como o caso dos reflexos inatos (Filogênese, 1º nível de seleção);

2. A Psicologia ficaria destinado o estudo sobre o indivíduo e seus comportamentos, posto que se trata de uma relação única entre um sujeito e seu ambiente (Ontogênese, 2º nível de seleção); e

3. A Antropologia ficaria responsável pelo estudo das relações culturais, como determinadas práticas culturais se modificam ou permanecem (Cultura, 3º nível de seleção).


Então, pela história da espécie temos algumas características selecionadas pelo valor de sobrevivência dentro de determinado contexto ambiental: por exemplo, polegar opositor, telencéfalo superdesenvolvido e pelos para aplacar o calor e frio (exalar suor e tremer). Evidências da evolução e de que o que não tem valor de sobrevivência é eliminado (em intervalo de tempo de milhões de anos): apêndice!

Na história individual, basta olharmos para dois irmãos gêmeos, que mesmo tendo o mesmo tempo de vida e terem vivido em ambientes físicos e sociais similares, desenvolvem habilidades, interesses e características bem distintas (Dividimos ambiente físico de social apenas a nível didático pra frisar que parte do ambiente é outro organismo em interação).

A nível cultural, basta olharmos a nossa volta, línguas diversas, culinárias diversas, religiões diversas, todas elas têm uma história ambiental que selecionou-as. Por exemplo, a cultura judaica se desenvolveu em ambientes quentes e de pouco acesso a água, porcos são animais que necessitam de bastante água, é obvio que cultivar uma alimentação a base de carne suína em meio a desertos não é viável. Outro exemplo, o Japão é um país rodeado de mar. Muitos de seus desenhos animados frisam monstros marinhos lendários, então, é de se imaginar o motivo pelo qual sushi foi um alimento a ser desenvolvido neste ambiente.

Já tá curtindo Skinner?
Para além destas questões, a Seleção por Consequência, como já vimos, baseada na seleção das espécies, traz consigo um modelo de causalidade não convencional a qual nossa cultura está acostumada. Em nossa cultura, estamos acostumados a uma causa mecânica dos fatos, em que um evento A sempre causará o evento B, e que o evento A sempre virá anteriormente a B. Na concepção de seleção por consequência, porém, a causa dos comportamentos operante é um evento posterior, pois são suas consequências que o mantêm. Bebemos água para retirar a sensação de secura na boca e hidratar nosso organismo. Comemos não só por prazer, mas para nutrir nosso organismo. No entanto, frisando, os três níveis de seleção por consequência agem paralelamente: fisiológico, individual e cultural. Deste modo, às vezes, mesmo com fome, tendo alimentos disponíveis, optamos por procurar outros de nosso agrado pessoal ou por valores sociais distintos para obter reconhecimento social (que nunca na adolescência?!).


Exemplo: escolher entre beber Dolly e Coca-cola para matar a sede (mesmo você estando na liseira e tendo um bebedouro disponível) na frente da escola e, principalmente, da pessoa que você está afim tentando ser descolado. Há uma infinidade de comportamentos a ser selecionados a partir das possíveis consequências. Beber água mesmo, se ficar sem dinheiro for mais aversivo, ou comprar coca-cola, para fazer aquela média, ou comprar um Dolly de 2L e fazer a social com amigos. Qual seria o seu reforçador pessoal de maior poder?

Desta maneira, o modelo de seleção por consequência explica o comportamento humano sem que recorramos a explicações descontextualizadas da realidade ambiental do sujeito. Assim, traremos alguns exemplos de explicação do comportamento do senso comum que são suplantados pela teoria skinneriana:

1. Explicações místicas ou validadas socialmente, que atrapalham a pessoa mudar as condições de dificuldades individuais e desigualdade social: "nasci assim...", "porque deus quis", "isso sempre foi assim...", "é o destino...", etc. (Gente, não! Não naturalizem as condições degradantes da vida, transformem-nas, sempre é possível buscar condições de diminuir nosso sofrimento)

2. Explicações baseadas em estruturas físicas ou neurológicas. Importante lembrar teorias segregadoras baseadas neste modelo, como frenologia, teoria da degenerescência social, nazismo, etc.

3. Explicações mentalistas: self iniciador do comportamento, consciência, vontade, instinto, "a raiva me fez fazer isso...", "é o instinto de mulher/mãe...", etc.

Terminando, o modelo de seleção natural e do comportamento seguem o seguinte modelo: variação, seleção, reprodução (da característica ou comportamento selecionados), nova variação, nova seleção, segue com esta ordem de eventos ao infinito e além.

Exemplo:


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