quinta-feira, 17 de julho de 2014

Mas, afinal, o que faz um Psicólogo?


Outro dia, comprando pão em uma mercearia perto de casa, o dono do estabelecimento me faz a seguinte perguntar "Você se formou em que mesmo? [...] Mas me tire aqui uma dúvida, afinal, o que faz um Psicólogo?". 

É tentando responder esta pergunta de modo mais simples possível que esta postagem será escrita. Porém, para tornar as coisas mais divertidas, após a resposta dada ao dono da mercearia, haverá uma tradução para o behaviorês. Ou seja, responderei sobre o que faz um Psicologo Comportamental.

Então, a forma pela qual eu respondi foi a seguinte:

Vamos pegar como exemplo o trabalho clínico, que é mais conhecido popularmente. Nosso trabalho não é apenas "ter uma conversa", é mais que isso. Porém, não faz muito sentido explicarmos termo técnico a termo técnico durante as sessões, já que a proposta é ouvir como é o cotidiano do sujeito e que coisas acontecem no seu dia a dia que estão relacionadas com o problema.

Dito de modo simples, durante as conversas vamos analisando o cotidiano do cliente, mas não faz sentido que fiquemos pontuando direto o que achamos do que ele esteja falando, afinal, seria muito chato um terapeuta cortando direto nosso raciocínio ou levantando hipóteses que muitas vezes possa os desagradar. E sim, algumas hipóteses podem ir contra as crenças pessoas do atendido sobre o seu problema e acabaríamos perdendo o cliente, o que não seria bom nem para nós, financeiramente, nem para o assistido, que perderia tempo e dinheiro desistindo...

Então, por meio de perguntas sobre o dia a dia ou enfase sobre um determinado acontecimento do cotidiano da pessoa assistida, buscamos fazer com que ela preste atenção em determinadas coisas e caia a ficha sobre determinados problemas e, assim, ele possa decidir o que fazer com estas novas informações. O que entendemos por decidir fazer com estas informações é: tentar mudar algumas coisas na sua vida que estejam relacionadas ao problema, mudando a situação e voltando/chegando a uma condição desejada. E isso vale pro trabalho em outros campos, mas com algumas modificações devido ao enfoque de cada contexto de trabalho...

Entendeu?


Se não, segue tradução comportamental da explicação ao amigo dono da mercearia:

Devemos promover uma Audiência Não Punitiva que, dependendo do caso, é algo muito difícil para o cliente encontrar no seu ambiente cotidiano, logo se tornar algo extremamente Reforçador para os comportamento de falar sobre seu dia a dia. Lógico que, falar com mais liberdade sobre si, é algo interessante para o terapeuta. Deste modo, seria pouco produtivo e cansativo aos clientes ficar ouvindo explicações do porquê desta ou aquela pergunta feitas pelo terapeuta ou o uso excessivo de termos técnicos. Apesar de muitas pessoas dizerem gostar, ter interesse ou curiosidade sobre o trabalho do psicólogo, basta algum de nós tentar tornar a conversa de um modo um pouquinho mais profissional que nossos amigos e familiares em festa de fim de ano ou mesas de bar mudem de assunto... Ou tem que atender o celular, etc!

Fazemos então nossas Análises Funcionais durante as sessões, levantando hipóteses sobre quais são as contingências mantenedoras dos comportamentos-problema. Fazemos perguntas voltadas para que o cliente pense sobre o seu problema levando em consideração determinadas variáveis com a finalidade que ele tire suas próprias conclusões, sendo estas algo muito próximo de uma Análise Funcional (que o pessoal da FAP chama de CRB3).


Em alguns casos, a Análise Funcional feita pelo terapeuta vai contra o senso comum ou racionalizações feitas pelo cliente e não é produtivo simplesmente jogar as informações "na lata" do cliente. Por isso, algumas vezes para os leigos, o trabalho do psicólogo pareça uma simples conversa, mas não é. É um processo no qual fazemos com que os cliente discriminem as variáveis que controlam seus comportamento e, assim, decida quais atitudes tomar frente a estas condições, modificando seu mundo e seu modo de agir, promovendo mudanças satisfatórias.

Resumindo: a dificuldade em explicar como trabalha o psicólogo parte do princípio de que quando somos solicitados, somos solicitados a ajudar a resolver problemas que nenhum outro profissional conseguiu antes, nem conselhos de familiares e nem a própria pessoa conseguiu resolver. Ou seja, nosso trabalho é ajudar a resolver processos comportamentais que as próprias pessoas que se comportam tem dificuldade de explicar e perceber determinadas variáveis relacionadas ao problema.

A raiz dos problemas não está dentro da cabeças das pessoas, mas no mundo, na relação com o mundo. Entender isso é uma grande mudança de paradigma!

Mas estamos aqui pra isso: discriminar contingências, analisar funcionalmente e testar hipóteses! Deste modo, esperamos transformar relações do sujeito com seu mundo, modificando assim as condições que mantem um problema... Tendeu?

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