terça-feira, 4 de novembro de 2014

Autocontrole, Liberdade e Análise do Comportamento


Reli a postagem anterior sobre Liberdade e percebi que ela talvez tenha ficado um pouco confusa pelo fato de que escrevi pressupondo que o leitor tivesse conhecimento mínimo do texto de W. Baum sobre liberdade em seu livro Compreender o Behaviorismo.

Deste modo, tentarei explicar de modo um pouco mais detalhado o que eu quis dizer e aproveitar a oportunidade para falar do conceito de Autocontrole em Análise do Comportamento.


Ainda sobre Liberdade:

Quando falo que o parâmetro para dizer que o contexto é ou não de liberdade não depende somente dos respondentes emocionais de prazer significa que existem situações em que estamos sobre controle de condições aversivas e o que sentimos é alívio e não prazer. Frisamos aqui este ponto: existem pessoas que viveram tanto sobre controle aversivo e não por reforçamento positivo que elas confundem a sensação de prazer com alívio, pois em sua história de vida não aprenderam a discriminar que contextos geravam respondentes de fato prazerosos (reforçados positivamente) e em que contextos geravam apenas alívio (reforçados negativo).

Ou seja, para o Analista do Comportamento viver sob reforçamento negativo, fuga/esquiva ou outras estratégia de remediação de aversivos, não é sinônimo de bem-estar e liberdade.


O conceito omitido na postagem anterior sobre o porquê de mesmo estando sob controle de reforçamento positivo não podemos dizer que seja uma condição de liberdade é Armadilha de Reforço. Baum nos apresenta em seu livro, já citado, que em muitos contextos do nosso dia a dia estamos expostos a contingências reforçadoras a curto prazo, mas que a longo prazo geram problemas muitas vezes irremediáveis. Por isso, é importante aprender a controlar as contingências que nos controlam em prol de melhorias a longo prazo, não visando apenas o curto prazo. (Aqui entra em cena o repertório de autocontrole...)

Ou seja, para o Analista do Comportamento alguém viver sob reforçamento positivo a curto, mas que a longo prazo gere malefícios aos sujeitos é uma condição de escravidão feliz, é uma Armadilha de Reforço. Não estamos inteiramente livres se há possibilidade de punição a longo prazo.


Apesar de que defendemos que a vida é mais feliz, livre e saudável se todos dispuséssemos de ferramentas e aderíssemos ao uso de reforçamento positivo, infelizmente nosso universo sempre poderá nos apresentar condições aversivas como doenças, privações e a própria morte. Uma sociedade baseada em um controle social por meio de Reforço Positivo é uma Utopia necessária para o planejamento social de novas práticas a partir do viés de Análise do Comportamento, é o nosso Sonho de Liberdade!

Uma contexto especial, porém, em que controle aversivo pode gerar sim sensação de liberdade e acesso a reforços positivos a curto e longo prazo são os contextos em que há Contracontrole! O contracontrole ocorre em contextos sociais em que governantes ou gestores (ou qualquer forma desigual de poder social) excedem o controle aversivo e isso ocasiona revoltas e revoluções. Estas revoltas ou revoluções em busca de melhorias sociais ou minimizar o fator aversivo, como por exemplo o uso de vinagre na tentativa de minimizar o ardor dos olho, podem ser tidas como momentos de Liberdade/Contracontrole! São momentos em que pessoas buscam modificar condições que controlam seus comportamentos de maneira aversiva em prol do seu bem-estar.


Ou seja, lutar por melhorias sociais por meio de Contracontole são medidas de Liberdade. No entanto, não estamos aqui defendendo o uso de violência contra violência. Muito pelo contrário, seria mais interessante meios de Contracontrole em que envolva uso de não-violência, como o caso da Desobediência Civil. Dou ênfase a esta fala porque na maioria dos exemplos experimentais envolvem comportamentos operantes que podemos chamar de agressividade!

Uma breve discussão: se não ficou claro ainda, Liberdade em Análise do Comportamento está relacionado a possibilidade de mudar sua vida, as condições de vida em que estamos inseridos, a possibilidade de mudar a nossa cultura. Tentando dialogar com as Filosofias Existenciais: a Análise do Comportamento concorda, ao seu modo, que ser livre é ser responsável pelas condições que controlam seu comportamento, é responsável pelas consequências de seus comportamentos, é ser responsável pela sua vida e suas escolhas.


Uma pontuação importante: o analista do comportamento não advoga em favor do excesso de autocontrole, nem advoga em favor da inexistências de controle ético da comunidade em prol do bem-estar coletivo/individual. Haverão contextos em que o problema da pessoa seja o excesso de autocontrole e nosso trabalho será fazer com que o sujeito viva melhor em função das contingências ao invés de comportamentos controlados por regras. Do mesmo modo, haverão casos em que o sujeito precisará aprender ou melhorar seu repertório comportamental de autocontrole, senão ele sucumbirá com problemas a longo prazo, como obesidade mórbida por exemplo. 

Nós Behavioristas Radicais não somos adeptos de uma teoria psicológica binária em que ou controle é bom, ou controle é ruim, liberdade é bom ou é ruim, controle social é bom ou é ruim. Todo e qualquer problema individual ou social deve ser visto a partir das Análises Funcionais e não de parâmetros anteriores a análise, normalmente atreladas ao senso comum!

Finalizando: fui curiar a dissertação da Luana Flor (link). Em sua dissertação ela apresenta que Alexandre Dittrich defende que, na visão skinneriana, podemos compreender Liberdade como: autoconhecimento, contracontrole e sentimento.


E o Autocontrole:

Em Análise do Comportamento, fugimos a noção de que para fazermos algo ou permanecermos fazendo algo necessitamos de "força de vontade" posto que é um construtor teórico que descreve um fenômeno, mas não explica o fenômeno de modo que possamos modificá-lo. Força de vontade, a que o senso comum se refere, seria um mentalismo, uma força metafísica que algumas pessoas teriam mais e outras não que influenciariam no comportamento. Porém, estas explicações beiram ao misticismo e devemos nos pautar em explicações eticamente coerentes, no caso, em explicações científicas.

Sendo assim, podemos definir Autocontrole como sendo a capacidade de discriminarmos os contextos que controlam nosso comportamento e modificá-los para que ocorram mudanças comportamentais. Autocontrole é comportamento operante, logo, pode ser aprendido, diferentemente o que prega o senso comum de que autocontrole (força de vontade) é tratado como característica inata.


Para desenvolvermos o repertório de Autocontrole é preciso que façamos uma Auto-observação de nossos comportamento buscando compreender em que contextos ocorre, quando ocorre, com que frequência e suas consequências a curto e longo prazo. Após este breve levantamento de dados, é preciso que façamos uma Auto-avaliação sobre que contingências exercem maior ou menor controle sobre nosso comportamento, levando em consideração as variáveis anteriores expostas. E em terceiro lugar, promovermos contingências de Auto-reforçamento que modifiquem a probabilidade de comportamentos incompatíveis com o comportamento indesejado passe a ocorrer com maior frequência.

Por exemplo: digamos que, quando chega final de semestre, você engorde com facilidade. No decorrer dos semestres da faculdade você percebe esta regularidade e decide mudar. Você então observa que momentos você sente mais fome. A partir das observações, você avaliou que sente mais fome quando é véspera de prova. Possivelmente você como como forma de diminuir os respondentes aversivos de ansiedade. Você também percebeu que come menos quando estuda na presença de amigos da faculdade, pois eles promovem outros contextos que minimizam o aversivo da ansiedade. Você promove um ajuste nas contingências convidando amigos para estudar com você e, assim, diminui o índice de alimentação compulsiva.

Sendo assim, temos uma Resposta Controladora que modificará algo no ambiente. No exemplo acima foi convidar amigos para estudar junto. E tempos a Resposta Controlada que se pretende alcançar, após modificar as condições que controlavam a emissão do comportamento problema, ou seja, minimizar o contexto aversivo anterior ao dia de prova por meio de audiência reforçadora.


Porém, por que é tao difícil modifica nosso repertório e promover autocontrole? Simples: as consequências que mantêm o comportamento são imediatas e não requerem grande esforço ou mesmo dispõe de maior magnitude de reforço. Ou seja, são esquemas concorrentes e as principais variáveis que influem em um comportamento de escolha são: menor tempo entre o comportamento e a consequência, menor esforço para obter as consequências, qual contingência de reforçamento promover maior densidade de reforço e se tem menor controle aversivo.

Além destas variáveis, ainda temos que há um custo de resposta entre aprender as Respostas Controladoras, colocá-las em práticas e, depois, conseguir contingências reforçadoras para mantê-las. Por isto, construir repertório de Autocontrole são desafiantes, para não dizer difícil!

Então, espero que tenha ficado um tanto mais claro sobre as questões relacionadas a Liberdade e Autocontrole em Análise do Comportamento!
Até mais

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